domingo, 6 de agosto de 2017

Freitas Neto admite possibilidade de disputar eleições para o Governo do Piauí em 2018

Em entrevista ao Jornal O Dia, Freitas Neto não descartou a possibilidade de disputar o Governo do Estado pela oposição nas eleições do próximo ano.
Freitas Neto admite possibilidade de Eleições para o Governo do Estado. (Foto: Jailson Soares/Jornal O Dia)
Freitas Neto (PSDB) já foi prefeito de Teresina, governador, senador, deputado federal e estadual, mas nunca mais disputou um cargo eletivo. Hoje, é diretor de Assuntos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado do Piauí (Fiepi), mas teve seu nome citado no cenário político estadual novamente como um possível candidato de oposição ao Governo do Estado nas eleições do próximo ano.

Em entrevista exclusiva ao jornal O DIA, ele comentou as reformas previdenciária e trabalhista, alegando que as mesmas são necessárias para o país. “Na realidade são reformas que já deveriam ter sido feitas”, diz. Apesar disso, lamentou o aumento de impostos proporcionado pelo presidente Michel Temer (PMDB). Sobre o Governo Temer, Freitas Neto disse que é uma “continuidade do Governo Dilma”, mas com uma herança de uma recessão econômica e de uma inflação acima do teto. “Ele está pagando também pelo que recebeu”, avalia. O tucano, que ficou bastante conhecido por ter saneado as contas da Agepisa, quando comandou o órgão, admitiu ainda sobre a possibilidade de sair candidato ao Governo nas eleições do próximo ano, disse que é necessário buscar maneiras novas de fazer política e avaliou que o PSDB nunca venceu uma disputa a nível estadual porque nunca se preparou para disputar a vaga.

Confira a entrevista:
O Governo conseguiu aprovar, recentemente, mesmo em meio às polêmicas, reformas como a Reforma Trabalhista e tenta aprovar a Reforma Previdenciária, que fazem com que os trabalhadores percam alguns direitos adquiridos. Como o senhor avalia essas reformas?
Na realidade são reformas que já deveriam ter sido feitas. A questão, por exemplo, da reforma da previdência é quase um imperativo: ou se reforma a previdência ou ela quebra. Quando ela quebrar, milhares de aposentados e pensionistas não receberá sua pensão. E a gente já está vendo os casos no Brasil. No Rio de Janeiro, não só os aposentados e pensionistas estão sem receber, mas também os funcionários da ativa. Ao contrário do que se imagina, Estados e municípios também vão a falência e também a União. A questão da Previdência é aritmética. Entretanto, pelo que eu conheço, quem tem direito adquirido, eles serão mantidos. As regras atingirão pessoas que não estão ainda aposentados. Com relação à trabalhista, ela é uma mera modernização da legislação que está sendo aplaudida no Brasil todo. A nossa legislação trabalhista é muito antiga prejudicando o surgimento de novos empregos. Ela não tira direitos, ela flexibiliza. O principal ponto da reforma é que ela privilegiou o negociado sobre o legislado, mas sendo negociado com o Sindicato da classe, dentro das condições impostas pela Lei. Nada é feito unilateralmente.

O Governo Temer tem sido bastante criticado por ter aumentado os impostos, como o imposto do combustível, em um momento em que o país já enfrenta uma crise econômica. O aumento era necessário, na sua avaliação?


O Brasil já tem uma carga tributária insuportável. O ideal seria cortar despesas. Aumentar impostos seria a última medida a ser tomada. O aumento do imposto sobre o combustível, por exemplo, ele vai atingir toda a população porque aumenta o preço de maneira em geral. Mas aqui no Brasil se tem esse hábito: tem dificuldade, aumenta imposto. Acontece no Governo Federal e também nos Estados. O próprio Governo do Piau acabou de aumentar impostos.

O senhor é o diretor de Assuntos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado do Piauí (Fiepi). Essas medidas de aumento de impostos foram bastante criticadas pelos industriais e empresários. Como o senhor vê essas críticas?

Os empresários, de uma maneira geral, vêm criticando o custo Brasil. Dentro desse custo, entra a infraestrutura inadequada, péssimo ambiente de negócios que existe em vários lugares do Brasil e a carga tributária, como até falei anteriormente. No Brasil se paga mais imposto do que qualquer país do mundo e, evidentemente, isso prejudica a atividade econômica e a população.

Nesse momento está acontecendo um grande embate no Congresso Nacional por conta da votação da admissibilidade da denúncia contra o presidente Temer. Como o senhor vê esse momento político e essa votação?


Veja bem: o que eu lamento muito é que o Brasil, no momento em que ia retomar, ou que estava retomando as atividades econômicas, que estávamos tentando sair da recessão, vem uma crise política que está prejudicando a economia. Prejudicando a economia, prejudica a população. Acho que o Brasil está tratando mais de política do que de administração. Está acontecendo de maneira generalizada e está prejudicando a população. O Governo Temer é uma continuidade do Governo Dilma, ele era vice-presidente, os ministros dele são quase todos os que serviram no Governo Dilma, mas ele, além de tudo, pegou a herança de uma resseção econômica, de uma inflação acima do teto. Ele está pagando também pelo que recebeu. Mas nós temos uma eleição no próximo ano, o Brasil vai ter a oportunidade de escolher e é preciso que a população tenha o discernimento de escolher uma pessoa que entenda de gestão, que seja comprometida com o futuro do país e não pense apenas em medidas que, aparentemente, sejam simpáticas e que depois coloque o Brasil na situação em que foi colocada agora. É um momento de grande responsabilidade.

Quanto ao presidente Temer, ele escapou momentaneamente. Na hora que ele sair da Presidência, esse processo terá andamento e ele terá que responder por essas acusações que estão sendo feitas pelo Ministério Público Federal. Agora, o apelo que faço é: vamos cuidar do Brasil e cuidar menos de política porque o que se sabe mesmo é que, o próprio PT não quer tirar o Temer e, inclusive pessoas do próprio partido admitem isso. Querem que ele fique sangrando, fique com essa impopularidade que tem, em parte pela situação que recebeu o país, mas que ele fique desta maneira, para que o PT possa disputar as eleições do próximo ano. É aquela história do quanto pior, melhor. Muitos partidos agem assim, muitos políticos de vários partidos, agem assim. Querem o pior para tirarem proveito eleitoral da situação. O PT não quer tirar o Temer, ele quer que ele fique impopular até a eleição.

O senhor já foi senador (1995-2003), governador (1991-1994), foi deputado estadual (1979-1983), deputado federal (1983-1987) e prefeito de Teresina (1983- 1986). Seu nome foi colocado pelo prefeito Mão Santa como um nome que agregaria a oposição. Ventila essa possibilidade de candidatura majoritária?


Eu diria a você que não é uma aspiração minha. Entretanto, tenho recebido manifestações nesse sentido e a minha resposta é a seguinte: não é provável, mas não é impossível.

Se fala muito que o eleitor está cansado da “velha política” e que falta nomes novos no cenário político. O senhor acha que novos nomes seria a alternativa para a crise política que o país atravessa?

O importante não é novos nomes, mas sim novos métodos, até porque pode entrar uma pessoa nova, mas com políticas velhas. E qual a política velha? A do compadrio, o de barganha política, e a nossa legislação leva a isto. A classe política precisa tomar juízo e fazer a reforma política para reduzir esse número de partidos que, na maioria das vezes representam apenas legenda de aluguel. Essa quantidade de partidos leva a barganha e é difícil o Governo compor uma equipe competente sem barganhar porque ele não terá condições políticas de governar e isso precisa ser corrigido. Então, o importante são novos métodos e não novos nomes.

O governador Wellington Dias tem amplo apoio na Assembleia e um leque de partidos aliados. O senhor acredita que ele conseguirá manter as alianças até 2018?

Acho difícil. Acho que até o final desse ano o panorama político é geralmente favorável ao Governo. O governador convocou quinze deputados [suplente], metade da Assembleia Legislativa, é claro que ele tem um apoio retumbante lá. No momento da eleição, isso tudo muda. Muda completamente. As eleições para Governador no Piauí não são fáceis. Não será fácil nem para o governador nem para o adversário dele. Quem vai ganhar, só o tempo dirá.

O PMDB, nos últimos anos, tem sido decisivo nas últimas eleições. O senhor acredita que isso acontecerá no ano que vem? Para que lado o senhor acha que penderá o partido, já que hoje ele está dividido?

Olha, tudo vai depender de como estará o Governador no ano que vem. Se o governador for o favorito, ele vai contar com um apoio maior. Se aparecer um candidato competitivo, esse apoio será dividido politicamente. Tem muita gente que está no Governo, mas está insatisfeito e está lá por falta de opção. Diante desse cenário, que alternativas a oposição teria? Tem que lançar um nome competitivo. Uma pessoa que saiba argumentar, uma pessoa que conheça a realidade do Piauí e se comprometa a fazer uma gestão priorizando não os políticos, mas a população, o Estado. Se ela conseguir convencer de que consegue fazer isso, dessa sua postura, de que vai, realmente, adotar isso, creio que será um candidato competitivo. Não existe essa história de eleição ganha de véspera. Nunca existiu e nunca existirá.

O senhor é filiado ao PSDB, que há muitos anos comanda Teresina, mas nunca conseguiu ampliar espaços no interior. Porque essa dificuldade do partido em fazer a população do interior se identificar com a sigla?


Porque nunca fez política no Estado. Sempre fez política, não só administrando bem, como sabendo fazer a política da capital, mas jamais almejou ampliar essa política no âmbito estadual. As vezes que disputou, mesmo com bons nomes, não se preparou para isso e continuou agindo dessa maneira.

Inclusive esse ano, muita gente que era do PSDB migrou para o PP. O senhor acha eu isso seria uma tentativa de ser mais bem aceito e ter uma base no interior do Estado?

Provavelmente sim porque alguns entendem que o PSDB não busca mais esse objetivo de se transformar em um partido de nível estadual e procuraram o PP que é um partido que está crescendo no Estado.

Se fala muito que o prefeito Firmino Filho deixou passar um “cavalo selado” nas eleições de 2002 e que acabou prejudicando uma capitalização do PSDB no interior. O nome dele, novamente vem sendo sondado para o Senado. Acredita que é o momento de ele partir para essa candidatura?

Olha, isso é uma questão muito de caráter pessoal. Em 2002, ele chegou a alimentar a candidatura, a viajar pelo interior e, se tivesse realmente sido candidato, provavelmente teria sido governador. Ele agora tem dito que não há essa possibilidade de se candidatar. Se for candidato, é um bom nome, mas me parece que ele está sendo sincero e realmente não será candidato.

Comenta-se que quando governador, o senhor atuou para sanear as contas da Agespisa. Como o senhor analisa a decisão do governo em fazer a subconcessão dos serviços da empresa para iniciativa privada?

Essa é uma decisão de caráter político-administrativo. Na realidade, o Governo decidiu não acabar com a Agespisa, mas entregar para a iniciativa privada. Se fosse o PFL, lá atrás, que resolvesse fazer isso, o PT ia fazer um verdadeiro escândalo dizendo que estávamos privatizando um serviço essencial que é o abastecimento de água e o esgotamento sanitário. Mas ele fez! Eu peguei a Agespisa completamente falida e, dentro de pouco tempo, coloquei ela nos eixos através de gestão. Foi isso que fiz! Optei por recuperar a Agespisa. O PT optou por privatizar o sistema.

O senhor acredita que, nesse momento, diante de todos os problemas que a Agespisa tem, mas com a privatização, será possível recuperar a empresa?


A empresa perdendo Teresina fica inviável. Esse sistema de empresas estaduais pegava municípios grandes e pequenos para que tivesse uma estabilidade. Teria lucro em municípios maiores e prejuízo nos menores. Isso foi um modelo que foi implantado ainda na década de 70, dentro de um Programa chamado de Plano nacional de saneamento, que levou água encanada para todas as sedes urbanas daquele tempo, inclusive a Agespisa. Mas depois, com má gestão, ela faliu.

Por: Karliete Nunes e Mayara Martins/Jornal O Dia | Edição: José Wilson | Jornal da Parnaíba

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