quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Volta às aulas: Pesquisas revelam medo de pais e risco para familiares

Volta às aulas pode colocar mais de 900 mil pessoas na fila das UTIs com Covid-19, mostra pesquisa da Fiocruz. Já pesquisa Datafolha revela que 70% dos pais não querem que filhos voltem as aulas este ano

Enquanto governos discutem a volta às aulas sem plano efetivo de segurança para proteger crianças e jovens do novo coronavírus (Covid-19), 70% dos pais e mães que têm filhos entre o 6º e o 9º ano na rede pública acham que seria melhor que ficassem na mesma série em 2021, revela Datafolha feita.

Estudo da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) revela outro problema grave: cerca de 9,3 milhões de pessoas também ficariam sujeitas à contaminação pelo novo coronavírus porque fazem parte de grupos de risco – idosos e adultos com comorbidades – que convivem com as crianças, jovens e profissionais da educação.

De acordo com o estudo, ainda que escolas, colégios e universidades adotem medidas de segurança e que elas sejam cumpridas à risca, o risco de contágio é iminente. Além da possibilidade de aglomerações nos locais, o estudo aponta que os transportes públicos e a falta de controle sobre o comportamento dos jovens representam situações potenciais de contaminação. E se forem contaminados, podem levar para casa o vírus e infectar os parentes, em especial os de grupos de risco, mais vulneráveis à doença.

Diego Xavier, epidemiologista do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict), ligado à Fiocruz, estima que se apenas 10% dos 9,3 milhões de adultos e idosos com fatores de risco, que vivem com crianças em idade escolar, precisarem de cuidados intensivos, serão mais de 900 mil pessoas na fila das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).

“Temos todo um conjunto de pessoas que compõem a comunidade escolar, desde os transportes, os funcionários das escolas, os alunos, os pais e cuidadores desses alunos, todos fazem parte da comunidade escolar e todos estão sob risco”, ele explica.

O epidemiologista ressalta que a volta às aulas é um passo da reabertura econômica que, teoricamente, coloca fim ao isolamento social recomendado por autoridades de saúde e o resultado é o aumento de casos. “O vírus se aproveita da grande circulação de pessoas para se disseminar e a tendência é de que voltemos a ter aumento no número de casos”.

Para autoridades internacionais à volta ás aulas presenciais só deveria ocorrer depois que todos fizessem testes para checar se alunos e trabalhadores da educação contraíram Covid-19, e depois também que fosse feito um rastreamento de contatos para isolar e tratar quem estiver infectado – quanto maior o rastreamento, menor a necessidade de testagem.

Segundo Diego Xavier, a forma como a volta às aulas está sendo ‘pensada’ não inclui esses protocolos mais aprofundados de prevenção e combate ao novo coronavírus. “Não bastam protocolos dentro da escola porque tem o caminho que a pessoa faz para chegar lá e isso, e isso não estão previsto”, afirma.

Assim como os estudiosos do mundo, o epidemiologista da Fiocrcuz fala da importância da testagem em massas das crianças, em especial às maiores de dez anos de idade que, de acordo com um estudo realizado na Coreia do Sul, são transmissoras em potencial do vírus tanto quando adultos, ainda que não apresentem nenhum sintoma e a doença não evolua nesse grupo.

Além desses fatores, a Fiocruz alerta também que há um agravante. É a desmobilização de recursos e desmonte de unidades de saúde, como hospitais de campanha, que são cruciais para o enfrentamento à pandemia, principalmente se aumentarem os casos de contaminação.

“Se aplicarmos a taxa de letalidade brasileira nesse cenário, estaremos falando de algo como 35 mil novos óbitos, somente entre esses grupos de risco”, ele explica.

De acordo com o epidemiologista, essa população terá de conviver com o vírus dentro da residência e, no caso de ter de recorrer ao serviço de saúde, o acesso será mais difícil.

“O SUS não terá folga grande para atender novos casos. Se colocarmos mais gente em circulação e o vírus voltar com força, não teremos como entender esses pacientes”, ele diz. (Com informações Sinte-PI.)

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